Leite de jumenta pode chegar a UTIs neonatais de Pernambuco até 2026
30/09/2025
(Foto: Reprodução) Leite de jumenta passa por estudos em Garanhuns
Um projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), em Garanhuns, pretende disponibilizar leite de jumenta para hospitais neonatais do estado até o início de 2026. O objetivo é fornecer o leite para recém-nascidos, como uma alternativa ao leite materno.
A pesquisa, em fase avançada de testes laboratoriais, avalia a segurança, a conservação e o valor nutricional do produto, considerado o mais próximo ao leite humano em composição e menos propenso a causar alergias do que o leite de vaca.
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Leite de jumenta tem composições semelhantes ao leite humano
Reprodução/UFAPE
Segundo Jorge Lucena, a ideia é que o leite de jumenta possa integrar tanto o SUS quanto o setor privado, seguindo um modelo já adotado na Itália, onde UTIs neonatais só podem utilizar leite humano ou asinino.
"Nas nossas pesquisas observamos que a melhor forma de aumentar o tempo de prateleira desse leite, é na forma em pó, já que ainda não temos grandes fazendas (na verdade quase nenhuma) aqui no Nordeste", afirmou ao g1.
Espécie ameaçada
Jumentos estão ameaçados de extinção
Reprodução/UFAPE
Além de atender bebês que não podem consumir leite materno ou leite de vaca, a pesquisa também contribui para o meio ambiente. O estudante de veterinária Ruan Mendonça lembra que a espécie asinina está em risco no Brasil.
“Os jumentos têm baixo valor de mercado e podem entrar em extinção. O projeto valoriza o animal e ao mesmo tempo ajuda crianças em UTIs”, disse em entrevista à TV Asa Branca.
Estimativas da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos apontam que, entre 1996 e 2025, mais de um milhão de animais foram abatidos no Brasil. Nesse período, a população caiu de 1,37 milhão para pouco mais de 78 mil, uma redução de 94%.
Como o leite é produzido
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Reprodução/TV Asa Branca
Segundo o professor de veterinária Jorge Lucena, responsável pelo estudo, todo o rebanho é mantido sob rígido controle sanitário. “As jumentas são vacinadas contra as principais enfermidades, monitoradas contra mastite e o leite coletado passa por análises periódicas em laboratórios de São Paulo”, explicou.
Após a coleta, o leite é filtrado, resfriado e enviado aos laboratórios da universidade, onde pesquisadores buscam a melhor forma de conservação. Uma das técnicas em andamento é a liofilização, que transforma o líquido em pó sem perder propriedades nutricionais.
O processo de transformação do leite em pó é conduzido com tecnologia de baixa temperatura e vácuo, o que aumenta a durabilidade do produto.
O professor Victor Netto Maia afirma que a expectativa é concluir a fase de testes em 2025.
“Já há experiências bem-sucedidas em outros países. O que buscamos é adaptar esse modelo para a nossa realidade e oferecer uma alternativa para UTIs pediátricas”, disse o professor em entrevista à TV Asa Branca.
Queijos, sorvetes e doces
Laticínios produzidos com leite de jumenta na UFAPE
Reprodução/UFAPE
A pesquisa também cria outros produtos derivados, como queijos, sorvetes, doce de leite, requeijão e sabonetes. Na Europa, cerca de 65% do leite de jumenta é destinado à indústria de cosméticos devido às propriedades antibacterianas e cicatrizantes.
A UFAPE iniciou os estudos em 2018, após receber da Polícia Rodoviária Federal (PRF) animais abandonados nas estradas. Desde então, o projeto se expandiu e, em 2024, ganhou apoio de uma startup, que trabalha na viabilização da produção em escala para hospitais públicos e privados.